domingo, 6 de fevereiro de 2011
Valerá a pena?
Estava um dia de intenso calor. O mercúrio no termómetro deveria marcar uma temperatura absurda, os graus estavam apagados pelos anos que passaram e não o moveram daquele lugar pendurado na parede. Mas estava calor. Muito. Deveria estar. Era Verão. Deveria ser um dia como outro qualquer. Mas, hoje não, hoje o dia íria ser completamente diferente. Ela regressava a casa após uma manhã extenuante. Após ter andado a correr, de um lado para o outro, quase voando, tentando enganar e driblar o tempo que parecia correr indiferente. Finalmente chegara a hora e poder-se-ía entregar a um momento de preguiça. Ao momento que tanto ansiava. Subiu a rua, cumprimentou um, acenou a outro. Finalmente em casa. Hoje não ía trabalhar de tarde, tinha concedido a si mesma umas horas de repouso e tranquilidade. Andava cansada. O tempo para ela parecia escassear. Já não se lembrava da última vez que se tinha estendido no sofá e tinha ficado a contemplar o tecto. E o tecto tinha tanto para lhe contar. Era nele que projectava a sua vida, as suas recordações... Quantas vezes ela se tinha deitado naquele sofá e não tinha assistido ao filme da sua vida, porque os seus olhos teimavam em fechar-se. Hoje não. Tirara a tarde só para ela. Deitada, no sofá, fixava aquele écran branco, enorme, e, uma lágrima teimou rolar pela face quando viu passar na tela os pais, a irmã, a família, os amigos. Não conseguia compreender porque se sentia sempre tão só, amando tanta gente! À lágrima que teimava rolar pela face, juntou-se uma e depois outra e mais outra. Mas, ela não fez caso, não reparou sequer que se encontrava abalada, afinal era assim que vivia o seu dia-a-dia. Só e triste. Desviou o olhar e viu a planta que lhe tinham oferecido,ainda, há um mês, quando completou mais um aniversário. Suplicava-lhe por vida, lutava para viver. Esquecera-se de a regar... Então, apoderou-se dela uma dúvida estranha...que teria andado a fazer este tempo todo?! Porque é que não era feliz? Porque é que na sua casa onde reinava alegria, agora só existia tédio e solidão? Não se lembrava, sequer, da última gargalhada que tinha dado, da última vez que tinha saído, que tinha aberto os seus braços para o mundo. Lembrava-se sómente da hora de acordar e da hora de deitar. Sim! Porque, de resto, só vivia para a profissão! O ir a casa era temporário, era para se refrescar, mudar de vestuário e tomar uma refeição. Valeria a pena? Valerá a pena? E a festa da amiga que não foi? E os anos do pai? E o nascimento do sobrinho? E o amor do homem que ela deixou fugir? E o amigo que partiu sem ela se despedir? Sim! Será que valeu a pena? Valerá? Aquela tarde tornou-se num marco de viragem da sua vida. Prometeu a si mesma não abusar da profissão. Afinal a nossa vida é muito mais que isso. A nossa vida é o que se separa da nossa actividade profissional. A nossa vida é aquilo que temos quando regressamos a casa ao fim de um dia de trabalho. E é isso que temos que amar e viver! É nisso que nos temos que apoiar e é nessa vida que guardamos e vivemos os nossos melhores momentos. É A NOSSA VIDA! E isso...ela só percebeu naquela tarde.
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