quinta-feira, 10 de março de 2011

Uma simples história

Ele sorriu. Ela sorriu.
Ela corou. Ele não.
Estavam os dois, ali, horas infinitas, debaixo da chuva a aguardar pela última camioneta do dia.
Ela conhecia-o de vista, das esperas diárias do transporte e dia após dia um sentimento especial por ele tinha crescido dentro dela. Ele não sabia. Ele não deveria ter reparado nela, quando os seus olhos procuravam os dele.
Mas hoje era diferente, hoje estavam os dois sózinhos, talvez pela chuva, ou quem sabe por obra do destino. E a chuva continuava a cair, num compasso certo e repetitivo.
Ele olhou para ela. Ela olhou para ele.
E ficaram assim, lado a lado observando a chuva cair e imaginando o pensamento um do outro.
Nunca tinham falado. Nunca tinham trocado ideias, pensamentos. No entanto, todos os dias, à mesma hora, cada um fazia parte da vida um do outro. A viagem não ficaria completa se um dos dois não estivesse presente. Não se conheciam, mas ambos partilhavam o mesmo momento diariamente.
Ela, durante o dia, ansiava pela a hora de regressar, só para o ver, só para o sentir durante aqueles minutos que ambos viajavam rumo às suas vidas, aos seus segredos.
Hoje, sim..hoje, poderia tentar uma maior aproximação, teria que aproveitar o momento e tentar conhecê-lo um pouco mais. Sentia que já o conhecia, pelos movimentos, pelas atitudes que ele tinha com os outros passageiros, pelas conversas ao telemóvel. Tinha uma ideia àcerca dele. Mas era uma imagem idealizada por ela e que poderia não corresponder à realidade.
Fez um gesto com os lábios, tentava soprar algumas palavras, mas o som permanecia no seu interior. Se calhar não era chegada a hora...se calhar ela não o deveria conhecer. Tentou mais uma vez e, mais uma vez o som não saiu.
Ele olhou para ela. E ela desviou o olhar. Não queria que ele a visse atrapalhada.
O tempo aproximava-se e já se via a camioneta lá longe, ao fundo da rua.
Ela sentiu que tinha perdido a oportunidade.
A camioneta chegou e ela fechou o guarda-chuva. Ele fez o mesmo. A porta abriu-se e ele deu-lhe passagem. Quando ela se preparava para entrar na camioneta, a mão dele tocou na mão dela...
Ele sorriu. Ela sorriu.
Ele corou. Ela não.